A gente aprende quando tem interesse pelo que estuda e um ambiente conectado com os alunos contribui muito.
Apenas um trecho de mar separa a ilha do centro urbano mais próximo em Angra dos Reis, mas as dificuldades para transpor esse obstáculo fazem com que jovens não consigam sonhar para além de seu cotidiano e com isso o futuro lhes reserva poucas opções, somente a pesca ou o trabalho braçal em pousadas. Como fazer para que desejem o que ainda não conhecem? Como aproximá-los de mundos tão distantes para torná-los projetos de vida possíveis? Um taxista do continente deu a resposta, simples assim, quando foi questionado pelo seu alto conhecimento sobre várias localidades respondeu “aprendi tudo nos livros”, se não podia ir nos lugares que desejava, estes vinham até ele, emoldurados em capas e imagens coloridas.
Em São Paulo, um dos maiores centros urbanos da Améria Latina, muitas vezes a cena não é muito diferente, separados não por um mar, mas por espaços infantilizados ou pouco convidativos, muitos alunos em grande parte das escolas públicas não vêm qualquer identificação dos espaços institucionalizados das escolas e bibliotecas com seus interesses. Aí a concorrência entre escolas ou bibliotecas austeras e a rua, a internet e o celular é uma disputa de cartas marcadas, onde todo o esforço para fazer esses alunos aprenderem se esvai em uma comunicação distante e que não valoriza o cotidiano desses jovens.
A gente aprende quando tem interesse pelo que estuda, quando pode fazer descobertas que têm sentido em nossas vidas, então por que não trazer para estes espaços livros que falem de arte e linguagens juvenis contemporâneas, isto é, de assuntos como graffiti, skate, tatuagem, quadrinhos, entre outros? Por que não transformar estes espaços em locais com a cara do jovem? Ou ainda, levar os livros onde o galera está? Como resultado teremos alunos curtindo ler e investigar, seja na rua, na internet ou numa escola onde o espaço também faz parte de um mundo em constante mudança, assim como é sua própria vida.
Na arte também é assim, segundo Mariana Pabst Martins seu pai, Aldemir Martins, foi um artista autodidata que veio para São Paulo do Ceará nos anos 40 sem educação formal em arte, mas com muita vontade de aprender, por isso sempre teve paixão por livros e por revistas. Os primeiros exemplares ele ganhou de pessoas como Sergio Milliet, Ciccilo Matarazzo , Alfredo Mesquita e Antonio Cândido, intelectuais máximos dessa época em terras paulistas, mas assim que as condições financeiras permitiram ele passou a comprar tudo o que lhe interessava. A grande paixão por revistas veio da constatação que elas eram um meio mais urgente de saber o que estava acontecendo na comunidade artística do mundo. Hoje em dia, Mariana já acrescentou muitos novos exemplares à biblioteca, sempre pensando no interesse que eles possam vir a ter para seus amigos e os artistas que conhece.
Em 2012, através de uma parceria com a organização social Crescer Sempre, que atente alunos da comunidade de Paraisópolis na Zona Sul da capital incentivando a leitura e apoiando alunos em sua aprendizagem, buscamos construir pontes entre diferentes mundos, seja entre os alunos e a instituição, entre a biblioteca e a rua ou ainda entre a arte e os artistas, contribuindo ainda na formação de novos leitores. Para isso desenvolvemos uma oficina de serigrafia com os alunos que produziram lambe-lambes e customizaram a biblioteca e sala de leitura da instituição.
De acordo com a pesquisa realizada pelo Instituto Pró-Livro em 2007/2008 Retratos da leitura no Brasil, 49% dos livros estão nas mãos de 10% da população. Ainda segundo a pesquisa, leitores frequentam bibliotecas basicamente durante a vida escolar, sendo que 46% dos alunos não têm esse hábito, ou seja, apenas 1 em cada 4 estudantes frequentam bibliotecas públicas municipais. Entre as razões alegadas pelos brasileiros leitores para não terem lido livros no último ano estão: dificuldades de acesso como falta de dinheiro (18%), de bibliotecas (15%) e de livrarias (8%). Ainda justificam não ler mais por falta de tempo (57%), preferência por outras atividades (33%) ou desinteresse (18%).
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